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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012





ENGANO



Do teu sorriso eu nasci, me envolvi completamente
contigo sonhei, com teu corpo presente.
Quantas noites se foram, frias e vazias
...
assim como essa
quantas preces orei, quanto pranto chorei
inutilmente...

Se te vejo sempre altivo, indiferente
como um rei que me humilha
como um deus prepotente
sinto essa angústia oprimir meu peito
que arte, sofre e clama
invoca e exige
respeito.


Humano

 tu és, eu sei
mas tua indiferença oca
me sufoca
me atiça
me faz sentir a vida triste, desenganada
vida sem dia, sem sol, sem calor

E eu
lembrança fria, longínqua
como esta noite, ambígua
igual à de ontem, e à de anteontem,
igual a todas as outras que já perdi
igual ao dia de amanhã
eternamente teu.



 http://crislebre.blogspot.com/2012/02/engano


Uma e quarenta da madrugada, sábado prá domingo, 11 para 12 de fevereiro de 2012: Acabo de ler "A Elegância do Ouriço", de Muriel Barbery. Estupendo romance! E, mais uma vez, entre tantas e tantas vezes em minha já longa vida, aquela conhecida sensação de vazio, de morte. Amarga e revoltante emoção. Soco no estômago: "Não!" digo a minha alma angustiada, "não acabe, não tem mais umas páginazin...has à frente?"
Posso voltar atrás, ler alguns trechos novamente, mas não adianta, já os li, me lembro de muitos deles, tanta atenção prestei, tão entretida fiquei. Droga! É isso a literatura? Uma sucessão de ficções tão belas quanto curtas? Pois quanto melhor o livro mais ele o prende e, consequentemente, mais rápido acaba? O que fazer com essa dor lancinante? Comer o livro, literalmente? Não vai me fazer bem, já o comi, figurativamente. Agora é juntar meus cacos interiores, quebrados em sentenças tão intensas compartilhadas entre a autora e eu, que doravante sou a dona da trama. Lembrar outros livros, outras citações, outras passagens tão marcantes quanto estas últimas lidas pouco antes deste desfecho esdrúxulo de solidão, decepção, o fim de um romance, tão lindo ele o era...
Tantos livros, tantas passagens guardadas na memória, desde Monteiro Lobato, Saint Exupéry, Machado, até o último de Vargas Llosa, o último de Saramago, o meu "Olhos de Lince, o nosso "Nuvem de Palavras"...
Viagens pelo mundo nas breves páginas que rolam em nossas mãos, e em cuja textura acariciamos, e em cujo conteúdo nos vemos, vivemos, amamos, gozamos, sofremos, choramos, morremos.
Deixar um acervo para os filhos, netos, sobrinhos, eles que, afinal, também precisarão da literatura para se desenvolverem, produzirem um mundo melhor a cada dia.
Dói-me agora o fim de "A Elegância do Ouriço". Poderia ter lido mais
devagar,
poderia não ter varado tantas noites lendo, mas sou adicta, não páro de ler. E não me consta, pelo menos até agora nenhuma pesquisa americana revelou, que este seja um vício prejudicial à saúde.
Para compensar a sua morte, tomo algumas decisões, depois de levantar a cabeça e me conformar com ela: 1) guardá-lo com carinho na minha estante, cada dia mais cheinha, quão mais bela ela fica; 2) tomar posse do próximo que aqui ao lado me aguarda, emprestado de uma grande amiga: " A Alma Imoral", aqui vou eu!
 
 
 
 

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    sábado, 4 de fevereiro de 2012



    CARÊNCIA


    Me faltam teus olhos, teu beijo
    me mata a distância
    mas vive em mim a esperança.
    Me deprime a tua ausência
    me angustia o teu silêncio
    me arrasa a tua falta
    me desespera a ansiedade
    mas me acende a tua lembrança.
    Me anima a tua imagem
    me enrijece a certeza
    de que tudo o que sinto, sentes também.

    Me acalma o sonho
    me nina a música
    me derruba o cansaço
    me adormecem as estrelas
    me arranca do leito o sol
    me leva pra você cada anoitecer
    me arrasta ao teu encontro cada luar;
    viagem lenta, serena
    estrada de terra.
    Me esboça um sorriso colorido
    cada amanhecer.

    Hoje falta menos que ontem
    a mente olha prá trás e te revê
    a mente olha prá frente e te prevê
    o coração bate devagar e sente você
    perto, tão perto...

    Agora sei o que me falta
    até que me chegue novamente a incerteza
    se afasta de mim a crença no nada.

    Me quero em teus braços
    me esconderei neles outra vez
    me vejo na mansidão do teu carinho
    me profetizo contemplando a imensidão do teu olhar
    me encontro no infinito do teu sorriso
    me enrosco na sutileza das tuas frases.

    Amo minha nuca oferecida à tua língua
    desejo minha carne exposta às tuas mãos
    cultivo minha semente à espera de tua semente
    me guardo hoje, me perco amanhã
    esteja ou não você aqui
    em algum amanhã
    não me faltará mais você.