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sábado, 25 de outubro de 2014

CHAFARIZ



CHAFARIZ

E se te ver de novo
fosse remido consolo
vida a pulsar?
Esperança de criança
da caverna da garganta
outra vez ecoar o grito
“amar...”

E se encontrar-te agora
fosse mais que rever o outrora
fosse ora real
o tempo final da tormenta
do viver-me em fonte de lágrimas
que borbulham
qual chafariz
fonte de mim
atriz?...

E se, lá por dentro,
desconstruída a velha história,
uma nova realidade
se abrisse em glória?

E se te amar de novo
fosse respirar no todo
re-viver
renascer o amor
sem dolo?

Ahhh, dentro teimoso
sentimento de idoso
cansado, renitente,
claudicante, insistente
em acordar
e tentar...

Ahhh, ilusão funesta,
só porque viu uma fresta
num olhar assim difuso
num sorriso assim turvo;
tudo não passa
de final de festa
vestido erguido,
sapatos largados,
pés libertos
no mar.

@Cristina Lebre
Código em RL – T5008720

sábado, 11 de outubro de 2014

DESIGUALDADE



DESIGUALDADE

A agonia que eu sinto é a de ver violência
o pó da estrada lambendo rostos murchos,
enrijecidos,
refugiados de disputas insanas.
O inconformismo com a mentira me rói os ossos
trinca os dentes,
sangue subindo e seguindo
o percurso de minhas entranhas,
lágrimas envidraçando os olhos.
A angústia que me traz a inveja,
a ganância, a ignorância
da recusa em constatar-se temporal,
do alienar-se quanto à efemeridade da vida,
da qual nenhum ser se livra,
leva-me a rasgar os andrajos
com que cubro meu corpo mortal,
a estapear-me o rosto,
a esconder minha mente em masmorras,
a consumir-me em dolos.
Ó, mundo imundo,
agacha-te e rende homenagem aos que estão no limbo,
inclina-te ao largado na sarjeta
invoca o amor
que encobre o pavor
do roto forasteiro.
Não somos mais do que carne podre
putrefata após a morte que a todos um dia leva
de nada adianta poder e posses
ao preço da fome dos pobres da guerra.
O que habita no meu dentro é a esperança
quando os ventos da compaixão acariciam minha face
ao vislumbre dos homens que se doam, sem detença,
pelo irmão doente, quebrado,
desenganado.
Enquanto tantos esquecem suas senhas
lacradas, incrustadas, mas infalíveis,
a minh’alma se tempera em devaneios de gozo
em cânticos de louvor
àquele que um dia volta, sim, sua volta tão esperada,
e que destruirá, em golpes duros e certeiros,
toda a maldade humana
todos os grilhões
da dor.


@Cristina Lebre
Código em RT - T 4982720