Sim, com todas as suas questões - Poema em
quatro atos
Primeiro Ato
Artilharia de beijos e abraços
abraços tão apertados
corpos deitados, grudados, quase entranhados
na nervosa querença de virar um só
de ocupar o mesmo espaço...
Perto, tão perto,
sim, homem de amor e dor,
queria você inteiro,
seus pedaços aos pedaços,
seus traços, seus laços, seus tragos,
a fumaça, os medos e os desesperos,
suas travas cravadas em raízes gigantes no peito,
seus brinquedos, seus carros velhos,
seus dilemas e seus dogmas.
Queria a totalidade de suas dualidades,
sem metades,
seus temores, suas vertigens,
os pesadelos e as fuligens
deixadas no pó da sua estrada,
que você não sacode por nada
da capa com que vestiu suas antíteses.
Não teria pressa, não te pressionaria,
em paz te esperaria,
só queria permitir a esta semente de amor
que plantada certamente está,
desabrochar, no seu tempo e em sua estação,
florescer, molhar devagar,
um jardim querendo florear.
Segundo ato
Em dado momento, decididas,
suas mãos me pegaram e me enlaçaram,
me enredaram e seus lábios acharam os meus, entregues,
e então o mundo girou, fast, fast, o prazer a quase me arrancar um grito,
enquanto o céu, boquiaberto, assistia à cena,
e decidia contribuir, para torná-la ainda mais plena,
com um escuro interrompido pela suave luz da lua cheia.
Terceiro ato
Suas linhas lapidadas na funda e magra face
dizem de suas marcas um milhão de nuanças
e o olhar, tão turvo quando límpido,
mixa receios e desejos.
Seus olhos parecem que me fitam com pena de sua vida
refletindo a inconformidade com o fim daquele amor
enquanto, ao mesmo tempo,
faíscam e me pedem guarida,
e envolvem-me com tal energia,
que me invocam toda a feminilidade do ser,
a sensualidade, a libido, a avidez,
do querer tantas coisas lhe dizer,
do querer em seu corpo me enredar,
me aquecer,
deitar sua cabeça tensa em meu colo,
os olhos ainda saltando de pavor ao me olhar,
e, docemente, deixar amanhecer o dia,
a seu rosto todo acariciar,
cabelos, pele, pálpebras trêmulas,
lentamente a relaxar,
seus cílios fechados, agora descansados,
acolhidos no carinho desta mulher,
que, na cama, resoluta,
ignora o tão temível quanto ridículo tempo,
e se deixa adormecer,
acarinhando-o, entre as estrelas e o luar...
Quarto Ato
E em meio a este sobrenatural enlevo
eis que feliz sentiria o repentino efeito
da claridade adentrando a janela
e inundando de um outro dia o quarto,
o dia em que, depois da noite do abraço tão estreito,
ao mesmo tempo resistente e carente,
bem devagar, e do jeito que fosse,
como tivesse de ser, mas sem se desperdiçar,
sorriria ao ver abrirem-se seus olhos redondos,
assustados a princípio, logo depois sossegados,
enquanto suas amarras se descontraíssem,
seus grilhões pouco a pouco se arrebentassem,
e eu o saudaria com um "bom dia,"
e um beijo molhado,
que dispensaria palavras, pois por si só diria
bem baixinho,
"dou-lhe feliz meu carinho,
até sentir seu coração bater,
agradecido, irmanado,
amante e amado,
no seu tempo, no seu hiato,
feliz, de fato,
devagarinho".
@Cristina Lebre
Código em RL – T4693024
3 comentários:
Boa Noite!
Linda poesia Cris!
Ainda não sei bem como escrever poesia, ainda mais assim em quatro atos... Faço alguns rabiscos... Mas não me canso de buscá-la em tudo.
Bjss e fica com Deus.
Obrigada, minha querida Célia Lima, vai lendo e escrevendo poesia que daqui a pouco vc estará postando versos lindos em sua linha do tempo para o nosso deleite, viva a poesia, bjssssss, s2
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