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segunda-feira, 6 de novembro de 2017



A PRAÇA

Um dia a praça será mais bela
repleta de crianças
balançando e escorregando
e velhos se exercitando .

Nela se unirão pais fotografando seus filhos
e filhos registrando seus pais.

As folhas caídas das árvores formarão um mosaico de cores
e jovens voltarão a namorar nos bancos.
O verde dos jardins encontrará o azul do céu
e borboletas, multicoloridas, pousarão nas pedras .
Cães correrão feito pintinhos,
e infantes os abraçarão sem medo .

A praça mais bela virá
não precisará ser fechada
porque ali haverá abundância de paz.
À noite morcegos e corujas entoarão seus cânticos,
e os gritos das moças, assustadas pelas lendas ,
serão sufocados pelos ruídos surdos das folhas ,
a desabarem lentas ,
no meio da madrugada.

Não haverá armas
nem violência
perigo não mais haverá .

Um dia a nossa praça
voltará a ser palco de pedidos de noivados
e os carrinhos de bebês terão vagas à vontade.
Meninos e meninas subirão em galhos
e mães, pais e avós gritarão que venham jantar.

Não mais haverá condomínios fechados
porque todos brincarão juntos
o negro e o branco somente se aterão
aos matizes da terra
diluída na tela
que o artista estará a pintar
enquanto a praça viverá a amar.

Um dia ela terá nome ,
quem sabe o meu , o seu ,
seremos lembrados por termos lutado por ela
nossa marca estará atada a ela .

E ela será palco somente de felicidade
do puro, do lúdico,
da tão sonhada liberdade .

Um dia haverá muito amor na praça
a mesma rua , as mesmas casas de hoje,
em outros dias.

Passarão as pessoas,
e a praça permanecerá.
O canto do galo ecoará
sua história
e no profundo da noite uma canção em voz serena
inundará o seu lugar.

Sim, ela viverá.

@Cristina Lebre - 07.08.17
Código em RL - T6081100

domingo, 4 de junho de 2017

CINZA (TRIBUTO A RAFAEL LAGE E TODAS AS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA NO RIO DE JANEIRO)


Houve uma manhã em que o dia se confundiu com a noite,
o breu e a luz se casaram 
a morte e a vida se uniram.

E  houve densas nuvens naquela manhã,
e ninguém ouviu sequer o eco 
do grito seco 
daquela dor . 

Naquela manhã lágrimas se fundiram com a neblina do meio dia 
o vento inesperado abraçou a agonia 
como que comemorando a tristeza , o desespero , o desamor .

Naquela manhã partos aconteceram  
E uma voz do alto confirmou o agudo torpor.

Houve uma manhã de domingo.

@Cristina Lebre 
28.05.17
Código em RL - T6018150


CASULO




Muda,
sem direção, incerta,
perdida
na inspiração.

Desajustada na vida,
claudicante
ante a injustiça 
que multiplica
e se anuncia
poderosa 
dominadora
opressora de
milhões, bilhões, 
de aturdidos.

E corações sofridos
partidos, destroçados 
e ela, outrora molhada,
hoje esparramada
na terra seca
na tarde árida
como sua mente 
quente de dores
plena de ardores
presa aos grilhões 
da tela vazia.

Surda
Inexistente poesia
sequer pariu um dia
nem mesmo uma linha
nem que fosse
manchada
interrompida.

Cega
o espinho na carne enverga
a coluna antes ereta 
agora curvada, renegada
buscando a vida pregressa
cruzando a estrada deserta
a tarde quente de um verão intenso 
a face imóvel a olhar o denso
e caudaloso rio por onde correm
os mansos, e onde se afogam
os iníquos.

@Cristina Lebre - 09.04.17
Código em RL – T5977471

Imagem by BruScultori Fotografia

domingo, 12 de março de 2017


LACUNA

Sonho com você por toda a noite
e acordo, plena de nós dois;
travas se soltam
correntes se arrebentam,
madrugada exala
amor.

E diante do nosso beijo lento,
imagem de um momento intenso,
toda uma gente
se cala.

Acordo, percebo meu corpo
ele emana a energia do desejo
e se alimenta do capítulo de uma história
que não fecha,
não fecha.

Um dia há de concluirmos
a pecha dessa energia
que até parece insana
despertar te lembrando na cama
a cana, ainda não quebrada
a torcida, de forma alguma esmagada,
uma luta interna, te amar, te esquecer,
uma causa ainda não julgada
um delírio a entorpecer.

Decerto a única trave
que ainda fecha meus olhos
e pela qual gastaria
minutos densos
do meu precioso tempo.

Cada um deles seria
pérola, diamante, esmeralda
até tocar o seio dessa alvorada
em que o sonho invoca
o até agora não resolvido
sentimento.

@Cristina Lebre - 21/01/17
Código em RL - T5889813

ELE



Ele

Ele é o todo lindo,
o incomparável, o Messias,
quem minha sede sacia,
e me fala de amor
e me aquece o peito
sim, Ele é o renovo, o leão, a águia,
o meu perfeito guia.


Por sua causa manhãs nascem,
intensas,
o céu se colore de um azul vívido
tal qual o tempo do outono,
em sua reverência.

E todo o meu ser se aquieta
para ouvir a passarada,
anunciando a festa para a qual,
docemente, me convida.

Com ele meu medo se esvai
e o amor pulsa de um jeito
que me invade a mente
e o pensamento inteiro.

E as cores se multiplicam
as flores, a uma, desabrocham
os bichos cantam, bradam, celebram,
e o homem pode ter paz.

O gozo da alma está nele
e a resposta às nossas questões.
Ele é o futuro e o presente
sim, é ele quem restaura
as nossas relações.

Vem e vê, irmão
o êxtase de a ele seguir
o caminho mais belo a andar
o reflexo a perseguir
aquele que, reto e límpido, se traduz
em vida de alívio puro
e que a cada suspiro nosso,
doce, e livremente,
nos conduz.

@Cristina Lebre - 04.01.17
Código em RL – T5873302

MÁGICA



MÁGICA


Ah! poesia é infinito
inspiração que vem vindo,
e não se pode perder.

A poesia, quando vem,
se anuncia , repentina,
dá sinal e é você quem escreve
e tem de ser agora;
ela não voltará,afinal.

A poesia não é cultivo
é colheita
de uma alma refeita.

Ah! poesia é cura
pra crueldade visceral
da vida!

Pois que se invoca
na mente do poeta
e o toca
e o incomoda
até ele render-se a ela
acender a luz e escrevê-la inteira,
como cachoeira em tromba d'água
desordeira, poderosa
senhora.



@Cristina Lebre - in "Marca D'Água"

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O RIO



O RIO

Velho Chico
de velho, nada
bebe vidas de uma só tragada
suga sangue de uma vez.

Velha água, margeia a terra seca
sua história é intrepidez
seu curso trai a previsão vigente
em direção ao que só ele desmente.

Sua princesa, a correnteza
ele a traça como entende
feliz de quem o decifra
maldito o que sucumbe
à sua beleza.

Mistério é o Velho Chico
lava a alma do oprimido
rega o solo esturricado
segredos leva consigo.

Guarda os ecos de acidentes
vozes, pedras, ocos gritos
velho rio, puro mito
traga a vida, num repente.

@Cristina Lebre – 23.09.16
Código em RL - T5780479