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domingo, 22 de novembro de 2015

DIALÉTICA VIDA



DIALÉTICA VIDA


Vida que segue
escolta seu rumo,
a divisória entre os céus
e o prumo.

Vida que, no caminho,
esbarra em embates
atravessa primaveras
se aninha no colo
de um sol taciturno.

Existência que cruza
estrondosos dias
silenciosos minutos
pesadas décadas
sob as nuvens negras da morte
e as dores suaves de pétalas caídas
em meio a tempestades de perdas
e a envelhecidas
murtas.

Vida feita de amores, desertos,
rancores, despedidas, opções certas,
e erros, e caminhos escuros
e curvas fechadas, e portas estreitas
e saudades que quase matam
e paredes sem janelas.

De sorrisos inocentes,
e olhares puros
de caninos e crianças,
de ventos escandalosos
de brisas discretas
bem-vestidas, silenciosas.

Vidas, escoradas nas varandas
rarefeitas nas lajes
celebradas nos bares
executadas nas viradas
dos becos, nas madrugadas.

Vida célere, me escuta
somente para de rufar neste dia
e adormece esse meneio aflito
e clareia esta vista turva.

Vida torpe, embuste
malcriada

mas que mais amada
reanima corações
e por eles, luta!



@Cristina Lebre - 18/10/15
Código em RL – T5424495

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

ARRITMIA



ARRITMIA

A respiração se me falta
o coração, rebelde, não cumpre seu dever a contento
exime- se- me o ar.


Sei a soma dos meus dias passados
mas do presente, e muito menos do futuro
alguma coisa domino
percebo o inimigo à espreita.

A cada vertente da noite agradeço
mesmo sem saber
se do sono despertarei
mais uma vez, para escrever.

Melhor rir desta cínica espera
faz- bem evitar expectativas
elas somente se somam à ânsia
de me deter, ou me deixar perecer
desta patente e macabra assertiva.

Melhor cheirar as flores da primavera
sabiamente sugar a brisa, escutar o vento
fazer ecoar o grito - voz da águia
que sobrevoa ao relento.

A noite, entre quatro paredes, promete vida
quem sabe sonhos, quem pode afirmar
amores, abraços ou promessas,
tudo é escuro aos olhos de quem vê
todas as cores, até as mais berrantes
como essas.

@Cristina Lebre - 24/10/15
Código em RL - T5429328

sábado, 3 de outubro de 2015

ANAMEL


ANAMEL


Impossível separar
a história de nós duas
cordão que não se arrebenta
instantes tantos, dos quais a alma
se alimenta
e por ora exigem dedicação plena
a este amor que jamais se sepulta.

Doce é viver nossa ligação intensa
darmos juntas esse adeus
que tanto nos atormenta,
e as boas-vindas a quem se aproxima
e de felicidade
nos reinventa.

Exultante milagre é a vida que persevera
e de novos momentos nos cobre, nos alenta
e de uma esperança, teimosa,
nos insiste, nos faz quimera.

Mel é o gosto dos vindouros dias
tal qual seu nome, e a cor de seus olhos
que me conquistam, fascinantes
e me enchem de paixão
o coração, às pressas, pulsante.

 @Cristina Lebre – 03.10.15
Código em RL – T5403420


domingo, 20 de setembro de 2015

TRIBUTO À CHUVA FINA



TRIBUTO À CHUVA FINA

Chuva, embala nossas noites
cai leve , e traz consigo a bruma
que massageia cabelos densos
por entre os caminhos tensos
dos dias que com avidez passam
sem se importarem
em não mais voltar.
Chuva, vem sobre as plantas
e delas a secura suplanta
alivia-lhes o pranto
de esperar um tempo tanto,
que parecia não mais
acabar!
No pé da serra
faz-se mais grossa;
rega a terra,
o verde, em mais verde transforma,
e gera aquela
que um dia foi apenas
semente.
Quem dera, chuva, a vida fosse você, somente,
e seus pingos batendo livres na janela
a brisa entrando por ela
os pássaros lisonjeando as águas
derramadas dos céus!
Sofregamente eu imploro
por mais noites como essa
por todos os dias em seu colo
por mais amor entre os viventes
por menos palavras vis
calúnias febris
entre dentes!
Oh, chuva, molha gargantas secas
de intensas e intrínsecas dores
de decepções e desamores.
Lava com seu poder de glória
traumas e chagas
ainda ferventes,
pois você vem do alto
é dádiva, na memória,
permanente.
Esfria os ânimos quentes
corações exaustos, gritos estridentes,
invejas, ódios, mágoas latentes,
limpa, torna mais alva
a paz entre as gentes!
Chuva que vem formosa
acalma, aglutina seus povos
em uníssono canto
de amor e perdão,
só você, água poderosa,
que tanto alivia
corpos
e mentes.
Sim, você mesma, chuva fina
e intermitente.

@Cristina Lebre
Código em RL - T5383478

sábado, 29 de agosto de 2015

MALDITA





Morte é víbora insana,
chega sempre vestida de açoites
e quando surge, a ratazana,
seja na luz do dia,
ou no manto da noite,
destrói tudo o que encontra
sem detença.

Cavalga um puro sangue nas trevas
se esconde em becos escusos
anda mancomunada
com a doença.

Jamais será aceita
em tempo algum perdoada
leva nossos amores
rasteja feito serpente
ouve nossos bramidos
goza de nossa presença.

"Onde está, ó morte, a tua vitória
onde está, ó morte, o teu aguilhão?"
porque decretado o seu fim está
a termo, e não demora,
é esta
a sua sentença.

@Cristina Lebre
Código em RL – T5328308







segunda-feira, 13 de julho de 2015

VIDA DE POESIA


VIDA DE POESIA
E do que eu vivo, é de poesia
seja de dor, ou de alegria,
de desamor, ou galhardia.

E do ar que respiro
retiro forças
inspiro, expiro
me emano em gotas.

E do que prossigo é de matar leões
sejam famintos, sejam vorazes
nenhum deles me abate.

E se ainda o coração bate
é de insistir na verdade
e renunciar à vaidade
e desafiar frustrações,

porque o meu pão é a sinceridade
o meu alimento, a transparência,
o meu sustento, a espera
o meu alento, a resiliência.

E se galopo a vida, é pulando obstáculos
na poesia, inteira, me refaço
porque do que vivo é de claridade
e de refutar falsidade.

E da poesia, faço a vontade
de um dom que me veio,
do dna, do seio,
do dentro, da água, do meio
do ar que aspiro, do rio, do leito,
até o último
suspiro.


@Cristina Lebre - 20.06.15
Código em RL – T5284757
 —

sábado, 4 de julho de 2015

OPRÓBRIO



OPRÓBRIO

A ignomínia me esfarela os ossos
chama-me pelo nome e me acusa
enquanto os pássaros cantam livres e anunciam
que sou bela, que sou pura.

A minh'alma, aturdida, conversa comigo e me consola,
ela me dirige os passos e me diz, senhora,
O meu opróbio está diante de mim
mas também o sol, torneando o azul turquesa
que arrebata os céus.

"Vê, poeta, que mais um dia nasceu, que você não se perdeu
vê que a vida continua e a graça de mais um amanhecer se fulgura.

Vê que vem a brisa, e não somente a turbulência,
que um novo dia se avizinha, e a acarinha, e a alimenta
recuse a penitência.

Vê que você é semente da boa terra,
e que à sua volta não permanecem espinhos.

Sente na face o beijo de Deus e o perdão
eles estão nos raios do sol perene
eles estão na flor que você viu desabrochar
eles vivem no seu tão crédulo amar.

Vê quanta beleza resplandece em seu rosto
e grava os mimosos versos no véu rendado do seu olhar
espera, liberta, levanta,
os passos trôpegos de agora
logo irão
se firmar."

O arrependimento me contorce as vísceras
quando escuto Sua voz a me embalar
ela é forte, vigorosa,
mas repete, mansamente,
"filha amada, tão somente erraste
por demais amar."

O desgosto me consome a carne
enquanto Ele se volta pra mim
oferece o colo de Pai
e novamente me colhe as lágrimas.

E eu O posso ouvir, resoluto, afirmar,
"fique sempre junto a mim
nunca, jamais irei
te deixar."

@Cris Lebre - 18.06.15
Código em RL – T5299797

quinta-feira, 4 de junho de 2015

MIMO DE MENINA

MIMO DE MENINA


Tenho um resto de menina
um fio de cabelo original
tecido no ventre da ascendência
tênue linha de esperança
teimosa, persistente,
capricho insistente.

Estranha persistência infante
no fundo d'alma, errante
crédula, resistente
como um cão que não desiste
de seu dono,
carente.

Não entendo, depois de tantos anos,
e dores, e partos,
e perdas, e partidas,
conservar um filete de infância
esquecer desse jeito
a falsidade humana.

Talvez eu seja a mesma, só que mais sofrida
calejada, nunca desiludida
de repente, tudo de novo,
aquele desejo,
ardente.

Lá no mundo
da mulher madura
por ora se acende
um incenso de criança.

A menina em mim não morreu.

@Cristina Lebre - 15.05.15

Código em RL – T5256124

sexta-feira, 1 de maio de 2015

CRIANÇA TEIMOSA



CRIANÇA TEIMOSA



Não, não me mande ir dormir!  Pois se é na noite que a alma desperta, e traz com ela as emoções mais nuas, nuvens envoltas no breu que encobre as ruas...
E traz as preces mais raras, as horas mais calmas, a inspiração exata, o silêncio que nos faz ouvir o diálogo entre as estrelas e a lua...
Oh, por favor, mais uns minutos!  Ainda que você diga que pareço uma criança teimosa, muito embora minha infância esteja (quase) tão longe quanto o dia que sucede a aurora...
Pois é na noite que meu peito se inflama de um jeito que quase rompe o pano de minha pele e expulsa as palavras sufocadas no decorrer das horas que nos obrigam ao labor...
Pois se é justamente no negro da escada do tempo que a gente sobe até encontrar o céu onde me dispo do meu véu de cidadã e desnudo minhas meiguices de amor...
Criança teimosa eu sou, pois de que aproveita a vida senão esperar morrer o dia pra renascer em poesia?
Sim, luto contra o sono perverso que insiste em camuflar meu inverso, que é exatamente a minha verdade, o incenso que transborda o odor dos meus versos...
Amanhã eu acordo com o caderno florido de escritas, porque o meu jardim interno semeou na noite as flores que irão desabrochar seus matizes de cores, beleza mais profunda do meu ser liberto nas palavras...
Deixa-me por mais um pouco, pois que a vida é como o vento, e dela não posso partir sem deixar as marcas dos meus inventos...
E só na noite eles encontram alento pra caminharem lentos e cadentes, do meu âmago para o coração das gentes...
Sou pássaro livre, voo no deserto do meu próprio limite...
E pouso onde escolher o meu Ide.


@Cristina Lebre – 21.04.15

Código em RL – T5223771

segunda-feira, 20 de abril de 2015

INCAPAZ



INCAPAZ  

Seus olhos ainda fitam
ainda miram
seus cabelos, tingidos da prata lunar,
seus olhos, esbugalhados e negros,
feito noite sem estrelas.

Não sei o quê eles veem,
não sei se me conhecem
você o sabe
seus olhos
ainda brilham.

Seduzem, reluzem, induzem
instigam, cativam, castigam.
Seus olhos me dizem
“estou viva”.

Meus olhos
mendigam
seu olhar.


@Cristina Lebre
20.04.15 

Código em RJ – T5214309

segunda-feira, 30 de março de 2015

LUZ BEM-VINDA



LUZ BEM-VINDA


Seus olhos têm um quê de raio de sol
um naco de favo de mel
espelhos refletindo andorinhas
voando em bando
em um cinzento céu.
E meus olhos os contemplando,
em êxtase, meu peito arfando...

Seu sorriso, um quê de dor
vertida em alegria
esperança calada,
contrita, contida,
na fronte exibida.

E eu aqui, paralisada,
e meu amor por você, apalavrado,
dias de calmaria ao seu lado,
como se a vida
fosse só paz, colorida...

E eu, em voo livre
pássaro esguio
jamais perdido
nunca mais
engaiolado.



@Cristina Lebre – 25.03.15
Código em RL – T 5187840

domingo, 8 de março de 2015

CONSUMADO



CONSUMADO


Não há mais rota a seguir
o futuro chegou
resolveu-se o amor
depois de revolver-se a vida
a procurar.

Amar não é mais que um simples
encontrar, sorrir, decidir ficar
porque está decidido:
não há mais o que
experimentar.

Amar é escolher
quem nos diverte, nos acolhe
quem a gente tem vontade
de dormir, colher uma flor
pra dar.

Amar é lembrar o dia todo
serenamente,
inexistente tensão
sorrir sozinha
de tudo e de nada
de sua mais recente piada,
amor verdadeiro
é paz no coração.

Agora é seguir,
mãos dadas no mesmo caminho de amar
comemorar a vitória do encontro
celebrar a vida
a cada luar.

Amar é esconder-se das dores
burlar sua realidade cabal
rir, brincar,
esquecer o tempo
nem ligar pras rugas
brigar até, pelas ruas,
pra depois abraçar
perdoar, de emoção chorar,
coisas de casal.



@Cristina Lebre - 18.02.15

Código em RL – T5146753

domingo, 18 de janeiro de 2015

ESSÊNCIA


ESSÊNCIA


Não é a cor opaca
nem a substância lânguida
nem a figura esguia
nem a imagem velada.

Mas o brilho trêmulo do olhar
redondos olhos medrosos
pedintes, perdidos,
nervosos.

Não é a estética da face
nem tampouco a prata capilar
o contrário é o deleite
os fundos sulcos
as linhas das rugas
que se formam no sorriso
a adornar o rosto,
belo enfeite.

Tal qual garça abrindo as asas
é seu movimento
peculiar,
que não se importa
em seduzir, mesmo sem querer,
fazer alguém
se apaixonar.

O desejo vem de dentro
do profundo admirar
a essência do que se diria
defeitos,
mas que se anunciam, perfeitos.

O desejo
é mais intenso
quando mudo
diante de cada meneio,
do seu imenso, caótico
impenetrável
muro.

Você me inspira
poesia.


@Cristina Lebre - 15.01.15

Código em RL – T 5106399


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

SIM, COM TODAS AS SUAS QUESTÕES - POEMA EM QUATRO ATOS



Sim, com todas as suas questões - Poema em quatro atos


Primeiro Ato


Artilharia de beijos e abraços
abraços tão apertados
corpos deitados, grudados, quase entranhados
na nervosa querença de virar um só
de ocupar o mesmo espaço...

Perto, tão perto,
sim, homem de amor e dor,
queria você inteiro,
seus pedaços aos pedaços,
seus traços, seus laços, seus tragos,
a fumaça, os medos e os desesperos,
suas travas cravadas em raízes gigantes no peito,
seus brinquedos, seus carros velhos,
seus dilemas e seus dogmas.

Queria a totalidade de suas dualidades,
sem metades,
seus temores, suas vertigens,
os pesadelos e as fuligens
deixadas no pó da sua estrada,
que você não sacode por nada
da capa com que vestiu suas antíteses.

Não teria pressa, não te pressionaria,
em paz te esperaria,
só queria permitir a esta semente de amor
que plantada certamente está,
desabrochar, no seu tempo e em sua estação,
florescer, molhar devagar,
um jardim querendo florear.


Segundo ato


Em dado momento, decididas,
suas mãos me pegaram  e me enlaçaram,
me enredaram e seus lábios acharam os meus, entregues,
e então o mundo girou, fast, fast, o prazer a quase me arrancar um grito,
enquanto o céu, boquiaberto, assistia à cena,
e decidia contribuir, para torná-la ainda mais plena,
com um escuro interrompido pela suave luz  da lua cheia.


Terceiro ato

Suas linhas lapidadas na funda e magra face
dizem de suas marcas um milhão de nuanças
e o olhar, tão turvo quando límpido,
mixa receios e desejos.

Seus olhos parecem que me fitam com pena de sua vida
refletindo a inconformidade com o fim daquele amor
enquanto, ao mesmo tempo,
faíscam e me pedem guarida,
e envolvem-me com tal energia,
que me invocam toda a feminilidade do ser,
a sensualidade, a libido, a avidez,
do querer tantas coisas lhe dizer,
do querer em seu corpo me enredar,
me aquecer,
deitar sua cabeça tensa em meu colo,
os olhos ainda saltando de pavor ao me olhar,
e, docemente, deixar amanhecer o dia,
a seu rosto todo acariciar,
cabelos, pele, pálpebras trêmulas,
lentamente a relaxar,
seus cílios fechados, agora descansados,
acolhidos no carinho desta mulher,
que,  na cama, resoluta,
ignora o tão temível quanto ridículo tempo,
e se deixa adormecer,
acarinhando-o, entre as estrelas e o luar...


Quarto Ato


E em meio a este sobrenatural enlevo
eis que feliz sentiria o repentino efeito
da claridade adentrando a janela
e inundando de um outro dia o quarto,
o dia em que, depois da noite do abraço tão estreito,
ao mesmo tempo resistente e carente,
bem devagar, e do jeito que fosse,
como tivesse de ser, mas sem se desperdiçar,
sorriria ao ver abrirem-se seus olhos redondos,
assustados a princípio, logo depois sossegados,
enquanto suas amarras se descontraíssem,
seus grilhões pouco a pouco se arrebentassem,
e eu o saudaria com um "bom dia,"
e um beijo molhado,
que dispensaria palavras, pois por si só diria
bem baixinho,
"dou-lhe feliz meu carinho,
até sentir seu coração bater,
agradecido, irmanado,
amante e amado,
no seu tempo, no seu hiato,
feliz, de fato,
devagarinho".



@Cristina Lebre
Código em RL – T4693024