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quinta-feira, 22 de maio de 2014

ANGÚSTIA VELADA







ANGÚSTIA VELADA

Corpo nu,
inerte nas dores
dos sofridos amores 
das desilusões nutridas
da angústia aguda,
incontida.

Dores nos ombros, tesos,
na coluna, tensa,
na nuca, dura,
dores que o corpo sofre,
consequências,
de relações fraudulentas.

Coração disparado,
veias obstruídas
sangue coagulado.

Mãos que formigam
adrenalina solta
espalhada
pelo abdômen gelado.

Ar retido nos pulmões
respiração incompleta
face retesada
olhos marejados
boca tremida.

Pernas aflitas, dormentes,
passos rotos, errados,
pés intrincados.

Dores de amores frustrados
jardins de flores falsas
pétalas de plástico
promessas hipócritas
discursos incoerentes
feridas que não matam,
destroem,
vida,
corpo,
alma,
lenta,
mente.

@Cristina Lebre – 20.05.14
Código em RT – T 4813918

quarta-feira, 7 de maio de 2014

OS POETAS



Poetas não são normais
(e se de perto, já disse um poeta, ninguém é normal, imaginem os poetas!)

Loucos natos,
lúcidos, translúcidos,
insensatos, caricatos,
audaciosos, apaixonados,
transparentes, videntes,
raramente opacos,
praticamente abstratos.

Atravessam paredes de essências humanas,
tocam feridas
pensam chagas
trazem à tona
lembranças remotas
quase vagas.

Poetas são santos justificados
de uma forma ou de outra,
perdoados,
descrevem dores de amores
de maneira que os apaixonados os evocam.

Desvendam emoções
dilaceram corações
por vezes com duras palavras
em outras, com versos tão doces....

Poetas são tribos
meio humanos, meio anjos
fantasmas camaradas,
répteis que rastejam
em margens de riachos
de mágicas palavras.

Poetas são amigos
de gente que nem conhecem
mas pra que saber nomes,
se o poeta entende as profundezas da alma 
e sabe por que todos sofrem?

Constroem estrofes estranhas
com rimas fazem artimanhas,
e assim vão consolando descrentes,
enfartados de desilusões,
amores que se foram, partidas sem volta,
que o poeta muito bem sente,
e faz poesia com mágoas
e humilha as mais úmidas masmorras 
diante de tantas palavras,
em líricas linhas envoltas.

Poetas tristes, inspirados,
outros alegres, aloprados,
escrevem versos emoldurados;
príncipes da madrugada,
viajantes em dramas,
amantes de tramas, de transas,
de estrofes sacanas.

 Poetas são bêbados
 de palavras e versos
 de caminhos controversos
 servem-se de amuleto
 compondo hai-kais ou sonetos
 aos deficientes de almas
 aos travestidos de gala
 hipócritas de dura cerviz
 quebrados, as vezes,
 diante de líricos duetos.

 São os poetas ilusões de ótica
 de carne e osso.
 Na verdade não são deste mundo
 embora habitem-no de corpo,
 fantasiados de humanos
 que sentem, escrevem,
 declamam, reclamam,
 e detonam, à plena voz
 a condição de seres viventes
 inconformados, sofridos,
 engraçados, iludidos,
 de um jeito ou de outro,
 transtornados.

 De métricas proféticas,
 de vidas falidas,
 de restos de histórias,
 de andrajos,
 de escória,
 a poesia se alimenta,
 e o espírito cansado
 sustenta.

 Na poesia o homem doente há de se curar
 e de emoção saltar
 ao ler um belo poema,
 e com ele se identificar,
 e assim sentir emergir
 de seu corpo exaurido
 um coração novo, e potente
 a bater ritmado, cadente
 a novamente
 vibrar.

  
@Cristina Lebre – 22.04.14
Código em RT – T4797106